Por: Anônimo - Eros & Psique - Publicado em: 06/12/2024
Minha descoberta da sexualidade esteve profundamente conectada à descoberta da minha bissexualidade — ou talvez ambas sejam, de fato, uma só jornada. Quando comecei a explorar os primeiros momentos de prazer íntimo, por volta dos 11 ou 12 anos, percebi uma atração similar por meninos e meninas, embora manifestada de formas diferentes. Ambos os gêneros despertavam algo em mim, mas cada um à sua maneira. Meu primeiro beijo foi com uma mulher, mas meu primeiro contato mais íntimo foi com um homem. A partir daí, passei a sentir uma espécie de culpa, quase como se fosse um marginal por experimentar prazer. Eu tinha namoradas e acreditava que essa dualidade fosse algo passageiro, que se resolveria ao me estabilizar com uma mulher. Mas a realidade não era assim tão simples. Aos poucos, fui entendendo que, voluntária ou involuntariamente, teria de lidar com essa parte de mim. Apesar de não me consumir completamente, isso me afetou, mas também foi o início de um longo processo de autoconhecimento que levaria anos para amadurecer — se é que existe, de fato, uma "resolução" definitiva nessa vida.
Cresci em um período muito diferente daquele enfrentado por quem nasceu nos anos 2000, com maior liberdade para assumir sua sexualidade e lutar publicamente por ela. Quem tem mais de 30 ou 35 anos sabe o peso das restrições sociais daquela época. Ter uma sexualidade fora do padrão heteronormativo era quase uma sentença de isolamento social — algo que, infelizmente, ainda carrega seus desafios hoje. Assumir a bissexualidade significava lidar com estigmas e adjetivos depreciativos, como “bicha”, “viado” ou “boiola”. Lembro-me de uma namorada que acreditava que só existiam dois tipos de homens: os heterossexuais "machos" e os gays "afeminados". Para ela, qualquer comportamento que fugisse do modelo masculino tradicional gerava asco. Nesse contexto, eu optava por esconder minha sexualidade. Não me via casando, porque isso significaria discutir esse aspecto comigo mesmo e com uma eventual parceira. Assim, permaneci solteiro, mantendo relacionamentos com homens ou mulheres.
Foi por volta dos 35 anos que comecei a amadurecer em um mundo mais aberto ao diálogo sobre sexualidade. Apesar dos exageros de algumas correntes mais radicais, a sociedade como um todo parecia caminhar para um entendimento mais amplo e acolhedor sobre o espectro sexual. Nesse contexto, encontrei meu ponto de resolução. Decidi que, em qualquer novo relacionamento, minha sexualidade seria informada desde o início, ainda na fase de aproximação e conhecimento mútuo. Essa mudança foi libertadora. Qualquer pessoa que desejasse estar ao meu lado precisaria compreender e aceitar minha sexualidade, fosse homem ou mulher.
Hoje, posso dizer com clareza que minha sexualidade nunca foi algo que me incomodasse. Pelo contrário, sinto-me uma pessoa mais completa e com maior capacidade de entender os outros. Jamais reprimiria essa parte de mim. Gosto de pessoas de bom caráter e bom coração, independente do sexo. Minha atração vai além disso, conectando-se a quem desperta meu desejo e minha admiração.